quarta-feira, 10 de dezembro de 2014


K - É QUE SAUDADE ME DEU DO PASSADO DE MATA ESCURA.

Com esse titulo que abro esse momento do blog, sobre as expressões das pessoas que no meio ou no final da entrevista deixavam no ar a saudade do passado. Por isso, vale apenas lembrar de novo.

Entrevistado nº - 01 (ICS)

- O Ponto 13 é conhecido oficialmente como Largo da União, não me lembro do porque ficou conhecido assim. Mas lembro-me muito bem como era antes o Largo da União, não era asfaltada e não tinha os passeios, por isso que quase todos os eventos aconteciam neste local:

  Comercio: em tempos em tempos neste local havia feira de artesanato onde varias pessoas colocava seus produtos e vendiam, era de tudo.

  Lazer:

Havia shows neste local, esse caminhão que tinha a carroceria de feita de madeira se transformava em palco e vários grupos de banda percussiva tocavam lá. Era um local para as famílias se reuniam e as crianças se divertiam muito, além de ser um ponto de encontro entre e os jovens.

Já que as ruas eram largas no inicio também era campo de futebol. Foram muitas peladas que joguei lá junto com meus irmãos e amigos. Os moradores do local brigavam muito com agente porque a bola batia nas paredes, além de cair nos telhados e nos quintais.

No São João havia queimas de Judas. Pois havia um senhor que fazia uma cobertura com palhas de coqueiro e transforma o local tipo um Arraial, cobrava, a gente não se importava em pagar, porque era mais um local de lazer.



Tinha um homem de fora que uma vez por mês colocava na sede do bairro filme que só era de caratê. Neste mesmo local também tinha a discoteca. Além da lavagem anual que acontecia no bairro.


 Entrevistada nº - 02 (ASC)

  A Mata Escura ainda não era asfaltada e quando foi colocando asfalto o fim de linha de Mata Escura ficou um bom tempo no Largo da União, conhecido também como Ponto 13. Lembro que houve uma grande movimentação de pessoas e de carros.

  Lembro que a primeira padaria era do Floresce, hoje não existe mais e se transformou em varias coisas até em Igreja. O Comercio do Mota, agente ficava do lado de fora no balcão pedia o feijão, arroz, açúcar... e ele pesava. A embalagem era de papel. Hoje a gente entra no supermercado e pega o que quiser. Também não posso esquecer-me do Senhor Oscar que também tinha a venda e uma avenida de casa. Ele vendia fiado a notava em uma caderneta e muita gente comprava fiado nele.

 

Entrevistado nº - 03 (JWSS):

Lembra que os presos que estavam perto de serem libertados. Saiam pela Mata Escura iniciando pelo (Ponto 13) Largo da União vendendo pão, frutas, temperos e legumes, tudo isso era produzido dentro da penitenciaria. Ninguém tinha medo deles. Eles não mexiam com nenhum morador. Todos que eu conhecia naquela época comprava os produtos deles. Só sabíamos que eram presos porque andavam com uma roupa azul.

Não posso esquecer que os muros da penitenciaria eram de arame farpado e estacas de madeiras, a penitenciaria era aberta a comunidade. Havia mensalmente campeonatos entre os times dos presos e os visitantes, tinha bandeirinha, juiz, tinha tudo. Enquanto estava acontecendo o campeonato os outros presos que não estavam participando ficavam vendendo artesanato que eles mesmos faziam, minha mãe na época comprou muitas coisas.

 

Entrevistada nº - 04 (ECS):

  Lazer: como a penitenciaria tinha muitas frutas, as crianças inclusive eu pulávamos a cerca que era de arame e íamos pegar: sapoti, manga, ingá, coco verde era varias frutas. O pé de sapoti fazia de gangorra e passávamos atarde ou a manhã toda se divertindo.

Por a Mata Escura não ter água encanada ia pegar água no rio ou no chafariz que tinha que era pago. Muitos jovens e famílias ganhavam dinheiro desta forma, enchendo tunes das pessoas que pagavam. Os tunes não eram como esses da gora não, era de zinco grande.  Poucas residências tinham fogão às famílias cozinhavam de lenhas e tínhamos que pegar feche de lenhas para cozinhar, quem podia comprava carvão.

O Candomblé do Bate Folhas quando cheguei aqui pequeno já existia anos, sendo o primeiro do bairro. O meio de condução era muito difícil, depois de muitos anos que chegou uma condução chamada bagageiro, mas não entrava logo em Mata Escura, tinha que andar muito com grupos de pessoas para pegar a condução, na volta fazia o mesmo processo.

 

Entrevistado nº - 05 (CSC):

  Junto com meus colegas eu ia muito nadar no dique do Prata, segundo meus colegas o local era muito fundo, como era muito pequeno e não sabia nadar os colegas me atravessam no ombro, às vezes fazíamos tipo uma jangada com troncos de banana. Tinha uma barragem que acredito hoje ser uma represa, pois lembro que os colegas também diziam de uns tubos que era muitos grandes que podia engolir uma pessoa.

Neste local conhecido também como horto havia muitas frutas, íamos diariamente lar, mas havia um vigilante que dava um tiro para cima e saiamos correndo, dávamos uma trégua, mas sempre voltamos lá, era a farra de crianças.

O primeiro comerciante que vinga até hoje é o Senhor Isaias, no inicio era uma Quintana feita de madeira, no meio tinha um pau que segurava para não cair. Ele vendia alimentos, depois passou para material de construção que vende até hoje. O primeiro orelhão foi colocado na venda dele.

 

FAZENDO UM LINK COM A PESQUISA E AS ENTREVISTAS:

 

  Sobre o processo de asfaltamento da Mata Escura;

  A década de 70 a instalação do complexo penitenciário;

  A fonte da bica e horto florestal;

  A represa da Prata, projetada pelo grande engenheiro baiano Teodoro Fernandes Sampaio;

  O primeiro comerciante do Senhor Isaias e o meio de transporte;

  As diversas formas de lazer dos moradores entre a década de 70 e 80.

 

 

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014


A
1.   CARREIRA DAS ÍNDIAS


Para dar inicio a parte do contexto Histórico do Bairro de Mata Escura será preciso primeiro fazer um percurso sobre alguns pontos da Historia da Bahia, Salvador até chegar o bairro em questão.
Em primeiro lugar será de suma importância citar sobre a Carreira das Índias que foi de grande relevância para a Bahia no que se refere principalmente à composição da mistura de Salvador, sendo assim:
Considere-se ainda a referência à Carreira das Índias e a potencial junção com as influências orientais, no conjunto das frutas tropicais que hoje reconhecemos como baianas, embora na sua maioria de origem asiática. (MATTA, 2013, p.7)

2.   SALVADOR:

Antes mesmo de se tornar a cidade de Salvador deu-se iniciou a 48 anos de sua fundação oficial. Conforme os portuários existentes na Bahia facilitaram a sua fundação. Em 29 de março de 1549, a armada portuguesa apontava na Vila Velha (porto da Barra), comanda pelo português Diogo Alves conhecido como Caramuru. Sendo assim fundada oficialmente a cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.
Salvador foi considerada ponto estratégico na defesa e expansão do domínio lusitano ente os séculos XVI e XVIII. Foi a capital do Brasil de 1549 á 1763, ou seja, por volta de 214 anos.
Entre vários grupo Indígenas que viviam em Salvador tinha os Tupinambás. Á princípios eles tinham um bom relacionamento com os portugueses que trocavam a madeira do Pau Brasil por vários tipos de objetos, sendo um deles machado. Com essa ferramenta os Tupinambás perceberam a evolução da extração da madeira “pois levava os Índios a conhecer e participar do modo de produção social” (MATTA, 2013). Isso influenciou em parte do comportamento dos Índios, fazendo com que os mesmos se adaptassem a essa nova forma de viver.
Outros produtos interessantes que também abastecia Salvador era a criação e consumo de gado e as frutas, verduras e produção de couro. O gado não só serviu como alimentos, mas como parte para a expansão das terras de Salvador, comandada pela Casa da Torre, que se localizava em um ponto estratégico e conseguia avistar qualquer embarcação inimiga. Garcia d´Ávila criou um sistema que conseguiu expandir as terras, obtendo aliados, por meio de casamentos dos portugueses com as índias. Os índios por sua vez cuidavam dos animais, plantações, além de bois nos currais, galinhas, carneiros e cabras.


3.   CABULA:
A constituição do bairro do Cabula foi implantada por povos guerreiros de Angola e do Congo. Sendo os primeiros povos escravizados e trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar, no final do século XVI, mas a queda da produção, as invasões holandesas e francesas fizeram com que os portugueses adentrassem no interior da colônia e encontrassem nas áreas de Minas Gerais uma nova rota de trafico. A sociabilidade do Cabula foi implantada por povos guerreiros de Angola e do Congo, primeiros povos escravizados e trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar no final do século XVI,
O Cabula foi um dos lugares de Salvador que possibilitou a criação e expansão desta forma social, em 1826 houve a rebelião do quilombo Orobó, próximo às matas de Plataforma, estes quilombolas tinham contato com a sociedade oficial, eram vendedores de frutas, de carnes, ervas medicinais, mandioca, de maneira que é possível pensar que a organização social que havia nestes espaços, não era, apenas, para um lugar de esconderijo, mas um território político-social com líderes e organização militar, social e econômica própria.

O quilombo Orobó foi dizimado, mas muitos quilombolas que escaparam da morte ou da prisão fixaram-se nas matas do Cabula em lugares protegidos, mas o governo da província da Bahia ao retomar as terras quilombolas resolveu vende-las à aristocracia da Bahia, em um dos escritos de Cid Teixeira (1978) aponta a Condessa de Pedrosa como uma das proprietárias (1882) de terras do Cabula. É neste momento que o Cabula passa ser lugar de fazendas e chácaras
Como responsáveis pelo início de socialização do lugar, é possível apontar os povos bantos, oriundos do Congo e Angola, como autores do nome do lugar Cabula, quer dizer em língua banto quicongo lugar de afastamento dos males, pelo menos é este o significado atribuído ao toque que abre as cerimônias litúrgicas das comunidades de Angola, o toque musical tem o nome de Cabula.
Outra referência sobre a presença africana são nomes de lugares como Beiru, Engomadeira, Sussuarana, nomes que têm influências de línguas africanas. No caso Beiru, é oriunda da palavra ioruba igbedú cuja tradução para o português é mata escura. No final do século XIX começa uma modificação no Cabula, a "Campanha de Queimado.", depois chegou à vez da desapropriação de todas as terras que pertenciam ao Mosteiro de São Bento, doação feita por Garcia D'Ávila no século XVI. Com a desapropriação em 1910, a prefeitura passou a vender e arrendar as terras. Daí que pode se dizer a ligação entre Salvador e a Casa da Torre e consequentemente com os bairros citado neste texto, principalmente Mata Escura.
Eldon Araújo diz que o Cabula começou ser vendido pela Baixa do Cabula, onde está a avenida Bairros Reis, Retiro e Rótula do Abacaxi - Mata dos Oitis – Sussuarana – São Gonçalo do Retiro. Havia também a Fazenda Bate Folha na Mata Escura, entre outras. É interessante pensar que todos estes locais eram percorrido por ancestrais de Angola, Congo, Iorubas e Daomé entre outros, assim como ancestrais caboclos afro-indígenas, afro-brasileiros e/ou indígenas que resistiam à colonização, esta resistência se mantém até hoje, há lugares que a memória da África: gestualidade, olhares, palavras, gosto musical, culinária, vestuário, comércio, medicina e a religião são referências da educação africana.

4.   MATA ESCURA:

Sobre a origem do nome do bairro de Mata Escura se tem a suposição de ter vindo da tradução do ioruba igbedú que quer dizer Beiru, cuja tradução para o português é Mata Escura. A segunda suposição é por ter sido um cerrado de Mata Atlântica.
No ano de 1870 o local foi arrendado por Flaviano Manoel Muniz e Maximiano José da Encarnação, de sua proprietária, cujo nome conhecido apenas por Dona Feliciana tendo sido as terras loteadas. No inicio do século XX, ali foi instalado um importante terreiro de Candomblé – O Terreiro Bate Folhas o mais antigo da região. O mesmo tem uma longa historia, visto que é considerado um dos fundadores de Mata Escura, pois segundo relatos dos membros teve sua fundação em 1916.
Com o nome inicial africano Manzo Bandu Kuen Kué, sendo da nação Angolana, representado juridicamente pela Sociedade Beneficente Santa Barbara, tem esse nome porque é de Iansã, Barbara no sincretismo religioso, hoje tombado como patrimônio histórico nacional pelo IPHAN. Na década de 30 já se constava a formação de núcleos de povoamento, com vários casebres, tomando este bairro o primeiro a iniciar a expansão interiorana na capital.
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A
Ainda nesta época foram construídas, para o abastecimento da cidade, duas represa no Rio Camurugipe que corta o bairro: Prata e Mata Escura projetada pelo grande engenheiro baiano Teodoro Fernandes Sampaio. Sendo assim essas duas bacias fez uma importante ligação entre Salvador e o bairro da Mata Escura. Na década de 50 foi construída a Penitenciaria Lemos de Brito, ainda hoje o maior presidio do estado e possui um importante acervo histórico em seu museu. Com o grande crescimento populacional de Salvador, a Mata Escura foi objeto do avanço urbano, com a instalação em sua área de diversos conjuntos habitacionais, a partir dos anos 80. A construção dos Conjuntos Habitacionais no entorno da área verde nos últimos 30 anos foi, pouco a pouco, devastando a reserva de Mata Atlântica e contaminando os mananciais hídricos.
Transporte durante muitos anos os moradores de Mata Escura precisavam andar até o bairro do Retiro para seguir de transporte coletivo ao Centro. A primeira linha regular veio anos depois com o itinerário: Mata Escura X Terminal da França, via São Caetano, o veiculo tinha o nome de Bagageiro. Lentamente foram sendo instaladas novas linhas e o acesso pôde ser feito também pelo bairro do Cabula, o terminal de ônibus sofreu algumas modificações, sendo instalada no seu local atual em 1981.
Algumas curiosidades do bairro da Mata Escura. Onde hoje está o mercadinho popular sempre havia um circo que era um das atrações da época. O primeiro estabelecimento vender material de construção e ter telefone público o orelhão foi em Isaias que se mantem até os dias atuais. O armarinho de Gilda, por ser o único por muitos anos era também bem conhecido. Em dois em dois meses a primeira Associação do Bairro promovia Discoteca que embalou muito os jovens no sábado tanto do bairro como de adjacência. Neste mesmo espaço tinha ainda cinema, sendo os principais filmes apresentado de caratê e não podia deixar de citar o carnaval que divertia principalmente as crianças no domingo. A chácara de Nair Sabaque, em duas datas especiais dava presente para as crianças: no dia das crianças e no Natal e havia uma pessoa vestida de Papai Noel.


5.   REFERENCIAS:


MATTA, Alfredo. Historia da Bahia: / licenciatura em historia. / Alfredo Matta. Salvador: Eduneb, 2013.